“POR ONDE ANDO”, o Douro de Gracinda Marques
Aprecio os meus desenhos como obra de um desconhecido de quem nada sei.
Já não me dizem respeito.
Com a distância temporal as coisas deixam de ser reais. É tempo de nos sentarmos finalmente, sem inquietações nem certezas, abeira da extraordinária ideia de que a nossa pequenez é, ainda assim, pensante e que isso nos permite, nalguns momentos, sermos eternos.
Que cada desenho meu se sinta bem na folha branca que escolhi para suporte do gesto registado a tinta-da-china.
Que os meus óleos se sintam confortáveis nas telas esculpidas a branco com espátula e amor.
Que os seres humanos se sintam bem na sua pele. Eles que foram criados para sentirem em si a maravilha da criação.
Esta parte da minha obra é um agradecimento às mãos que fizeram, e fazem, o Douro e às cabeças que o pensaram.
Hei-de sempre comover-me pelas tarefas diárias devotas às vinhas. São filhos vegetais sobre quem a atenção não descansa nunca.
Desenhá-lo é ama-lo. É registar o passado e descobrir os traços do futuro a aflorar.
Lembrar os que aqui estiveram e os que hoje o cuidam, tantas vezes sem se darem conta da obra-prima em que trabalham.
A arte é a parte esplêndida da vida.
A arte e o amor abrangem a totalidade do universo.
A arte e o amor são a vida.
A arte e o amor não têm rotinas nem medos.
A arte e o amor são os únicos acontecimentos revolucionários da história.