Extinção III
Inauguração 09 de outubro
Coordenação Museu do Douro
Museu do Douro | 09 de outubro a 21 de fevereiro de 2016
Armanda,
Há muitos anos, mesmo muitos, tantos quantos separam a vida da morte, o meu irmão, o pintor Nuno Barreto, disse-me: "António, retém este nome, Armanda Passos! Conheço-a muito bem. É uma pessoa rara. Uma pintora especial." Foi assim, minha cara Armanda, que a conheci. Por procuração. In absentia. Mas com a rigorosa certeza do Nuno.
Seu,
António Barreto
Lisboa, setembro de 2015
Gordas, bisbilhoteiras, intriguistas, secretas, poderosas, ameaçadoras, metediças, matronas, matreiras, doces, castas, voluptuosas e brincalhonas, as mulheres de Armanda organizam os nossos pesadelos e habitam os nossos sonhos. São as mulheres.
As mulheres de Armanda são fortes, determinadas, reservadas e misteriosas, guardam segredos e espalham rumores, tecem intrigas e contam boatos, povoam histórias que são os seus quadros. Somos nós.
Os olhos das mulheres de Armanda vêem, observam, fitam, investigam, meditam, dizem, ouvem, sentem, são negros e escuros, mas brilham na cor dos seus quadros, no céu dos seus fantasmas e na espessura dos seus sonhos. São os seus olhos. São nossos.
Os bichos de Armanda são divertidos e monstruosos, tiram do peixe e da ave, saem ao percevejo e à enguia, vêm do ornitorrinco e do okapi, parecem-se com sapos e alforrecas, assemelham-se a cangurus e abelharucos, são poéticos e terríficos, quase carinhosos e domésticos, invadiram os seus quadros e ficam por ali, a viver connosco, nunca mais nos largas… Quase ouvimos as suas gargalhadas provocadoras. São os outros.
António Barreto
Folha de sala